LITERATURA DE CORDEL
A PELEJA DOS PROFESSORES CONTRA O CORONELISMO EM PIRAMBU
“Pirambu ficou famoso
Pelas belezas naturais
Aqui tem bonitas praias
Belas dunas e coqueirais
Riachos e muitas lagoas
Espere aí que conto mais
(Tracejo do cordel A lenda da Lucrécia)
***
A estrofe acima citada
Trata-se de uma citação
Que o poeta de cordel
Achou para a introdução
De mais uma obra-prima
Que não trata de ficção
***
Caríssimos companheiros
Com meus botões pensava
Da luta dos professores
E tão logo escrevinhava
Acreditem e me desculpem
Não sei se ria ou se chorava
***
Isso pelas patacoadas
Daqueles que são gestores
Sem compromisso algum
Com as senhoras e senhores
E fazem de tudo pra tirar
O direito dos professores
***
Na seqüencia dessa prosa
Direi o que particularmente
Acho desses camaradas
Que agem indecentemente
E assaltam a mão desarmada
O bolso de nossa gente
***
A nossa peleja começou
Quando num dado momento
Fizemos concurso público
E assinamos um documento
Para prestar um serviço
E então sair do sofrimento
***
Mas parece que deu azar
Principiou um sofrimento
No lugar da estabilidade
Apareceu o remanejamento
E um bando de puxa saco
Tirando a gente de tempo
***
Profere o ditado popular
Que a velha esperança
É a derradeira que morre
E paralelo a perseverança
Os professores pelejaram
Para ver chegar a mudança
***
Minha vó sempre dizia:
Não se atreva a cutucar
O cão com vara curta
Para não se prejudicar
Mas sabe, menino teimoso
Resolveu então arriscar
***
No início de dois mil e sete
Surgiu assim um movimento
Que quebrou a velha rotina
Do nosso planejamento
Rebelando-se naquela hora
E fazendo um rompimento
***
Não irei aqui citar nomes
Pra num agir injustamente
Pois cada um companheiro
Direta ou indiretamente
Contribui com a nossa luta
Simbora vamos pra frente
***
Rompendo com a mesmice
Com a maldita hipocrisia
Não se assustem, é verdade
Não estou falando arisia
O que hoje é pauta de luta
Antes se chamava heresia
***
Bem, voltando à reunião
Do planejamento informado
Promoveram uma dinâmica
Idêntica a do ano passado
Pra saber das expectativas
Do ano acima já citado
***
E concluindo os trabalhos
Fomos para os resultados
Brotaram grandes artistas
Com desenhos ilustrados
Só deu a lei da natureza
Nos trabalhos apresentados
***
A turma lá do fundão
Encerrou polemizando
Um bichano bem faminto
Q’stava ali simbolizando
O sofrimento do professor
Q’num tava mais agüentado
***
A figura do tal bichano
Foi então bem de$enhada
Olhando para uma cifra
Um tanto quanto agigantada
Que no bol$o do profe$$or
Há tempo foi di$pen$ada
***
Vivemo$ a era do gelo
Não mudava o vencimento
Poi$ a cifra bem gigante
Que e$tampava o documento
É a expre$$ão de cinco ano$
$em um real de aumento
***
Até hoje meus senhores
Somos mal interpretados
Os famosos bajuladores
Nos chamam de endiabrados
Somos vítimas do sistema
Estamos sendo maltratados
***
Esse protesto assustou
Surgindo uma oposição
Que tratou de perseguir
Mas seguimos com a opção
De instalar o Sindicato
Pra resolver essa situação
***
Foi então a primeira vez
Que se promoveu esse ato
Pois antes só em cochichos
Pois seria um desacato
Que ousasse citar o nome
De qualquer um sindicato
***
Daí fomos a promotoria
Pedir uma orientação
E o doutor promotor
Reforçou nossa opção
Sindicalizar-se é preciso
Antes de qualquer ação
***
Logo depois do carnaval
O grupo assim procedeu
Fez contato com o sindicato
Que prontamente atendeu
Com um curso de formação
Que a categoria concebeu
***
Mas antes quero frisar
Que na fase dos contatos
Com o SINTESE em Aracaju
E pra decidir sobre os fatos
Foi criada uma comissão
Com os devidos aparatos
***
Em caráter provisório
O empenho foi mantido
Participamos dos cursos
E foi muito divertido
Mas olhe muitos colegas
Não queria nos dá ouvido
***
Mas insistimos na luta
E vimos um feito heróico
Instalamos o Sindicato
Foi um ritual bucólico
Em vinte e oito de maio
Se deu esse fato histórico
***
A luta é quem faz a lei
Escrevas no pergaminho
Tá registrado na internet
E também lá no livrinho
Do espaço multi-cultural
Denominado de Clubinho
***
Ainda no primeiro semestre
Vivemos uma experiência
Foi com o Ministério Público
A nossa primeira audiência
Junto com a administração
Pra resolver nossa pendência
***
Mas antes quero frisar
Que de forma impertinente
Tentamos manter diálogo
Com o Senhor dirigente
Mas às vezes tava no mundo
Ou dizia que estava doente
***
A sábia crença popular
Quem for esperto escuta
Já dizia o Srº. Trancoso
Com sua idéia matuta
Que quando a coisa ta ruim
Para piorar não custa
***
Um grupo de pára-quedistas
Caíram em nosso terreiro
Vieram inventando moda
Foi tudo muito ligeiro
Mudaram o comportamento
Desse povo hospitaleiro
***
Disseram até que Pirambu
Era a capital do Brega
Como é que fica o Ilariô?
Em meio a essa piega
Avante pirambuenses
Se não o gabiru pega
***
Imergiram meu Pirambu
Num mar de corrupção
Saquearam o erário público
Maquiaram a documentação
Compraram carros de luxo
E aqui e ali uma mansão
***
A justiça logo tratou
De encontrar uma solução
Pra salvaguardar Pirambu
Das garras da corrupção
Enviaram sob encomenda
Uma tal de Intervenção
***
Inicialmente a população
Aceitou os interventores
Que vieram pra melhorar
A vida dos sofredores
Mas logo se transformaram
Em verdadeiros inventores
***
Devemos aqui ressaltar
Que quanto à organização
Da máquina administrativa
A equipe da intervenção
Tentou deixar um legado
Que nos chamou a atenção
***
Mas quanto ao funcionário
Faltou-lhes mais atenção
Relato com propriedade
Que na área da educação
Se engoliu muito discurso
Seguido de perseguição
***
Jamais devemos admitir
Que nós os servidores
Sejamos tão humilhados
Por nossos administradores
Afinal, a base da prefeitura
Somos nós, os trabalhadores
***
Já deu para perceber
Como foi o tratamento
Na época da intervenção
E para dar prosseguimento
Relatarei com amargura
Todo aquele sofrimento
***
Pense num povo pousista
No ato da negociação
Vamos blindar Pirambu
Essa é a nossa função
Expressão que se ouvia
Pelo povo da intervenção
***
Esses versos de cordel
É uma prosa verdadeira
Cada dia tem uma novidade
Nessa terra hospitaleira
Dê também sua opinião
Avante gente guerreira!
***
Depois de muitas tentativas
Sem nenhum entendimento
Só encontramos uma saída
Pra esse nosso movimento
Reunimos os professores
E fizemos um acampamento
***
No dia nove de outubro (2007)
Fizemos uma paralisação
Alojamos na frente do Mário
E com o apoio da população
Solicitamos que o interventor
Resolvesse a nossa situação
***
Naquele mesmo ínterim
Já tínhamos programado
Seguir com a paralisação
E conforme o combinado
Fizemos uma passeata
Pra deixar o povo alertado
***
Quando saímos na rua
Naquele mesmo momento
O povo da intervenção
Questionou o movimento
E começou a perseguição
Com os cortes no vencimento
***
Tudo por causa do plano
Que se encontra defasado
Pois não garante a carreira
Do nosso professorado
A briga por outro plano
Vem desde o ano passado
***
A intervenção não aprovou
O nosso plano de carreira
Os demais administradores
Disseram: isso é besteira
E não encontrando apoio
Tivemos que vir pra feira
***
Tivemos que vir pra feira
Mostrar para a população
Que o professor tá sofrendo
Com essa triste situação
Onde os gestores não querem
Avançar na negociação
***
Pirambu virou novela
Que tem muita audiência
O entra e sai de prefeito
É uma afronta à decência
Do povo desse município
Que tem muita paciência
***
Saiu então na cidade
A seguinte gozação
Se você que ser prefeito
Faça já a sua inscrição
Contribua pra melhorar
Essa triste situação
***
O administrador atual
Diz: não temos dinheiro
Pois todos nós sabemos
Isso não é verdadeiro
As verbas da educação
Não quebra o seu roteiro
***
É um dinheiro exclusivo
São verbas carimbadas
Que três vezes por mês
Elas são depositadas
Na conta da prefeitura
E que estão desviadas
***
Se nós perdemos os royalties
Em meio a essa altura
Trata-se da ingerência
De quem dirige a prefeitura
Não usou onde carecia
Deixou o povo na amargura
***
E sem avançar na conversa
Com a atual administração
Tivemos que mais uma vez
Fazer uma paralisação
Dessa vez foram três dias
Pra acabar com a humilhação
***
Atenção senhor prefeito
Chega desses clamores
Trate bem o professor
Chega desses horrores
O professor é quem educa
Os filhos dos eleitores
***
Abaixo o coronelismo
Que deixa o povo humilhado
E garantimos aos senhores
Vamos deixar o recado
Se não avançar paralisamos
Por tempo indeterminado
Autor: Professor Agnaldo dos Santos Silva - professor, ativista cultural e sindicalista.
Cordel publicado no blog dos professores de Pirambu em 23 de Abril de 2008.
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