Autor: Agnaldo Cordelista - ano 2005
Era uma vez uma cobra, um peixe e uma donzela
O poeta se inspira
Na sua realidade
Escreve sobre os amores
Da roça até a cidade
Traça o mundo em poesia
Vive ou não a fantasia
Primando a sinceridade
***
Vou rimar alguns causos
Repassados com destreza
Por nossos familiares
Por nossos familiares
Com alto teor de certeza
Que guardamos na memória
Pra registrar na história
Os segredos da natureza
***
Certa vez eu pernoitava
Na casa do tio Invenção
Onde sempre à noitinha
Parte da população
Sentavam ali todo dia
Para ver quem respondia
A última adivinhação
***
E no prosseguir da prosa
As histórias de Trancoso
Deixavam a gurizada
Com o ouvido cuidadoso
Pra entender a fantasia
Que garantia a freguesia
Do velho Mané Gostoso
***
Diziam: Era uma vez...
Pra iniciar comentário
Sobre fantásticas estórias
Do nosso conjunto lendário
As fábulas de Pirambu
Contadas por seu Nambu
Que perdia até o horário
Que perdia até o horário
***
No caminho das Trairas
Perto do Camurupim
Na lagoa das Titaras
Tem um segredo sem fim
Lá tem uma cobra de crista
Que parece ser surfista
Ao deslizar no capim
***
A inquilina perpétua
É exigente na refeição
Vez ou outra um fazendeiro
Vez ou outra um fazendeiro
Diz que somem criação (ovelha)
E se der uma de carrasco
Ele pode virar churrasco
E deixar viúva a Conceição
***
E logo mais adiante
Indo para Alagamar
Na lagoa do Sangradouro
Banho, não vou tomar
Bem dizia seu Severo
Que o tal do peixe Mero
Foi expulso lá do mar
***
Ir pescar no Sangrador
Ou até mesmo se banhar
É um risco, pois o Mero
Já vem te abocanhar
Com sua boca gigante
E seus olhos de brilhante
Quer em lanche te ganhar
***
Na rima tem mais lagoa
Até parece peripécia
É a imaginação do povo
Legítima, sem controvérsia
Na Restinga tem uma crôa
Ao lado fica a lagoa
E o morro da Lucrecia
***
Contava minha bisa...
Dizia sinhá Mafalda
Que uma linda jovem
Por estar apaixonada
E não ser correspondida
Pelo anjo de sua vida
Preferiu morrer afogada
***
Nas noites de lua cheia
Se ouve uma seqüência
De chororô e gemidos
Que aumentam a freqüência
Se no morro for andando
Vê Lucrécia lastimando
O pagar da penitência
***
E no exibir da fantasia
Vamos viver a realidade
Preservar a hidrografia
Proteger a biodiversidade
Pra garantir a essência
Da cultura, com decência
Rumo à prosperidade
***
***
Sobre o surgir de Pirambu
Farei uma observação
Do Povoado Porto Grande
Parte da população
Pra essa terra se mudaram
E com outros organizaram
A sua transformação
***
Alguns barracos de palha
Outros de barro, tapado
Pirambu com suas praias
Era um privilegiado
Já despontava o turismo
Destaque pro extrativismo
E forte para o pescado
***
Esse é meu Pirambu!
Com seus milhares de habitantes
Nome de peixe famoso
De ilha chamava-o antes
Vive da pesca, agricultura
Vive da pesca, agricultura
Tem riqueza na cultura
E sofre mudanças constantes
***
Na década de quarenta
Pirambu já arrancava
Pra alcançar a liberdade
O povo se organizava
Formou-se uma comissão
Pra desmembrar da missão¹
A vila que prosperava
***
No ano sessenta e três
Pirambu foi emancipado
Aos vinte e seis de novembro
Sob o apoio do Estado
Mas só em oito de agosto
Após dois anos de desgosto
O município foi instalado
***
A lei um, dois, três, quatro
Foi tão logo censurada
Pelo golpe militar
E quem estava na empreitada
O exílio foi a punição
Uma vergonha para a nação
Ver a democracia manchada
***
As mudanças aconteceram
Veio a prosperidade
Por isso Pirambuenses
Defendam nossa cidade
Pra que nessa conjuntura
A nossa rica cultura
Não fique só na saudade
¹Cidade de Japaratuba
Homenagem ao saudoso tio Invenção - contador de estórias sobre Pirambu
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