domingo, 24 de fevereiro de 2013

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS? Um peso pro rico, outro peso pro pobre?

Vou relatar agora um causo
Que outrora se sucedeu
Uma questão entre o IBAMA
E a dona Sinhá do Brêu
É um amassado da bexiga
Foi coisa que até fedeu
Sinhá pra fazer uma roça
Lá nas mata da Imbira
Derrubou uns pés de Quifofo
E umas moita de Sicupira
Bem pertinho do riacho
Pra fisgar umas traira
Pra cedo plantar o mio
Sinhá fez uma aração
Ainda no mês de março
Coivarou e cavou o chão
Pra se Deus quiser comer
Um miozinho em São João
Certo dia, Sinhá do Brêu
Tava na roça limpando
Uns pezinhos de batata
Dois home já foi chegando
Trazendo nas mão um papé
E a Sinhá foram intimando
Os home que tô falando
Fiscaliza o meio ambiente
Fazem parte do IBAMA
Órgão que se diz presente
Em defesa da natureza
Com uma política eficiente
Sinhá com pouca leitura
Não soube se defender
Levou uma multa da gota
As pernas só deu pra tremer
Quase foi pra o xilindró
Mas Deus veio a interceder
Pra pagar a tal da multa
Sinhá vendeu o que tinha
Umas cabra e um barrão
Meia dúzia de galinha
Até o galo véi aleijado
O jumento e uma vaquinha
Além disso, a sexagenária
Levou uns quatro carão
Que saiu desnorteada
Daquela repartição
Buscou terra, não achou
Uma grande confusão
A sinhá não entendeu
Porque foi tão penalizada
Há anos que ela brocava
Naquela capoeirada
Lugar de paca e raposa
E também onça pintada
O povo da redondeza
Ficou num medo infernal
Não podia ver um jipe
Que diziam: é os fiscal!
Pra roçar só retirando
Uma licença ambiental
Sinhá abandonou a roça
Acabou com a macaxeira
O mio, o priquito comeu
E sem ter renda certeira
Saiu de casa as pangaretas
E hoje mora lá na lixeira
Mas vejam só os senhores
No fim do ano passado
Voltei a região da Imbira
E fiquei todo arrepiado
Não reconheci o lugar
Pois fiquei quase ariado
Quando desci lá da chã
Encontrei um canavial
Máquina feito a bexiga
Acabaram com o matagal
No final vi o véi Imbira
Se sumindo num canal
O riachinho da Imbira
Estava seco no osso
Na mangueira de Sinhá
Não vi nenhum caroço
Na tapera de Sinhá
A cana dar no pescoço
Meu cumpade Zé Piaba
E uns quato gato pingado
Peitam um tal de usineiro
Que arrendou todo roçado
Meteu a venta com tudo
Deixou o povo assustado
Naquele mesmo instante
Me senti meio impotente
Pense numa raiva da gota
Dessa legislação dormente
Que tirou a Sinhá da roça
Em nome do meio ambiente
Isso é uma gota mermo!
Intimei logo o gerente
Mas o cumpade Piaba
Me segurou de repente
Disse: carma home!
Tão armado até os dente!
Para não virar defunto
Temi pela minha vida
Percebi que no Brasil
Tem dois peso, duas medida
Quando o assunto é a Lei
Que precisa ser cumprida.
O velho dito popular
Não mente, é verdadeiro
É que o grande capitalista
Usa e abusa do dinheiro
Só não pode comprar a vida
Por que Deus é verdadeiro
Antes que digam lorota
Multa pro rico é piada
Projeto de recuperação
Na prática é uma fachada
No final o rico só vence
E a pobreza tá lascada
No Brasil, a monocultura
Tem incentivo federal
Nunca vi pobre crescer
Dentro de um canavial
Desse jeito a policultura
Dar o seu sopro final
Estamos de acordo sim
Com a Lei da preservação
Mas servindo a todo mundo
Do ônus à bonificação
Do contrário, tá tudo errado
Pois só o pobre é penalizado
E a guerra num acaba não…
“No momento… é o que posso fazer pelo velho Japa”
Agnaldo Cordelista

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de parabenizà-lo pelo excelente trabalho desempenhado na comunidade pirambuense e também por esse maravilhoso cordel "DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS". Suas palavras mostram exatamente o que acontece no nosso país, infelizmente.

ATT.
Renata Carvalho
BIÓLOGA
MESTRANDA EM SAÚDE E AMBIENTE -UNIT

Abdias disse...

Excelente, Prof. Agnaldo. Muito bonito e verdadeiro.