segunda-feira, 16 de maio de 2011

A arenga do fumo com a cachaça

Nesse mundo presenciei
Diversos “arranca rabo”
Hoje lhe conto mais um
Que parecia num ter cabo
Veja o que ganha o curioso
Nesse dia quase me acabo
Foi num dia de sexta-feira
Dia treze, oi a desgraça!
De longe vi uma peleja
O começo duma arruaça
Pois quando me aproximei
Vi que era o fumo e a cachaça
O detalhe é que tem gente
Mesmo não sendo nobreza
Que não agüenta desaforo
E pra dizer com certeza
Resolve o caso na hora
Usando a boa esperteza
Senhor Fumo e a Cachaça
Tem uma banca na feira
E claro a mercadoria
É o fumo bom de primeira
E uma branquinha da boa
Pra se ter festa certeira
A propaganda é de certeza
A alma do bom negócio
Essa deixa do capitalista
Tem gerado até divórcio
De que tempo é dinheiro
Um verdadeiro consórcio
Partindo desse princípio
O fumo e a cachaça
Investiram na apelação
Veja a seguir o que se traça
E fizeram um estardalhaço
Para os viventes da praça
Cachaça pra todo gosto
Chegue perto camarada!
Troque aqui suas moedas
Conheça a moça mimada!
Ela pode descer branquinha
Como também misturada!
Venha ver aqui de perto
Tome logo uma bicada!
Rabo de galo, babatenâ,
Pitu, milone, cobra criada
Tem um coco de quinze dias
Que cura inté a marvada!
Para fumar você escolhe
O que é melhor pro seu pito
Fumo de corda pro pacaio
Em rolo, cortado, qual tipo?
Escolha, escolha autarquia
Acenda e trague bonito!
Queime como você quiser
Compre logo em quantidade
Seja cigarro ou cachimbo
Comprove aqui a qualidade
Foi aprovado pelo Imetro
O carimbo é de verdade
E para acertar, a banca
Da cachaça, era vizinha
Da cafufa do velho fumo
Que logo de manhãzinha
Juntava o bloco dos bêbos
Com a turma da branquinha
Dois dedos pra começar
Gritava o mestre “Augusto”
- Cachaça é uma moça branca
Filha dum homem robusto
Ela bate comigo no chão
Eu canto com ela no bucho.
Nisso o Sol ia subindo
Já perto do meio dia
Os ânimos se exaltaram
E o pior não se impedia
A pólvora estava pronta
O barril já, já explodia
Começou uma confusão
Por conta de uma biana
Que um cabra dispensou
E caiu na dose de cana
De um freguês antigo
O velho Chicão Viana
Mas vamos deixar o caso
Dos bebum pro delegado
O mesmo irá dá um trato
Nos camarada intrigado
Voltamos com a cachaça
E o fumo já meio iscado
- Me diga seu enrolado!
Gritou bem alto a cachaça
Você num tem moral não?
Não governa a sua raça
O pião chega e faz pouco
Ta é tudo entregue àtraça?
- Alto lá dona cachaça!
Preste muita atenção!
Exijo é mais respeito
Pois toda a sua falação
Não tem lógica e sentido
Tenha mais consideração
Não devo nada a ninguém
Estou hános nessa empreitada
Se não sabes negociar
Só se meta onde é chamada
Passe a bola pra frente
Pra num fazer marmelada
Começou a baixaria
A cachaça fez um barraco
- Seu negão descarado!
O que é que pensas tabaco
Eu conheço seu passado
Você mija fora do caco
Esses bestas que te rodeia
Irão se ferrar tudinho
Tão fazendo uma viagem
Todos já sabem o caminho
Por fora ta só o cumbuco
E tu comendo caladinho
Sua ficha eu já puxei
Sua gente lhe incrimina
Sei que andas misturado
Com a tal da nicotina
A bandida da acetona
E a vil da naftalina
Tem também outro comparsa
Que é o tal do metanol
Sem se falar no amoníaco
E o traste do fenol
E pra tu num apodrecer
Misturou-se com o formol
O fumo então retrucou
Defendendo-se da acusação
Não nego para ninguém
A minha composição
Tá escrito na minha roupa
E sempre sai na televisão
Dou tempo pra o indivíduo
Fazer então a opção
Problema de quem me usa
Não faço uso da coerção
Se tens problemas de saúde
Mas passei a informação
E você velha bruaca
Bota o povo no mau caminho
Barraqueira sem vergonha
Faz acordar logo o vizinho
Conheço também seu passado
Vou lê o seu pergaminho
Quando tu entras no bucho
Causa uma movimentação
Que sobe logo pro cérebro
Deixa o cabra sem ação
E se o consumo for alto
Leva-o a intoxicação
Se misturar com o volante
Se torna triste o resultado
Aumentas as estatísticas
De norte a sul do estado
Tens levado muitas vidas
Deixando o povo assustado
Tu és um papa-anjo
Ilude também as crianças
É muita lábia e promessas
Promovendo altas festanças
Vou denunciar no Conselho
Resolva suas lambanças
Tu és um mau bocado
Quem ingere vai detestar
Sua velhota intragável
Deixe-me, quero labutar
Que te consome demais
Só vive se vomitar
Eu tava assistindo tudo
Vi que os dois iam brigar
A cachaça já tava bêba
E o fumo a instigar
Entrei logo na conversa
Para tentar apaziguar
Bem dizia minha avó
Só se meta onde é chamado
Levei logo um boga oio
Do fumo veio injuriado
A cachaça me deu um banho
Que eu sai todo melado
Nesse momento leitores
A cachaça foi desmaiando
Entregou-se para as moscas
O fumo saiu resmungando
Deu umas duas baforadas
E eu fiquei assim pensando:
A briga vai pra ressaca
Pois que mantém o pardieiro
É o velho consumidor
Disposto a gastar dinheiro
Que não tem pena da vida
Podendo morrer mais ligeiro.
 
de Agnaldo dos Santos Silva
SE - por correio eletrônico

Texto publicado no site do Jornal Mundo Jovem
http://www.mundojovem.com.br/poema-cordel-68.php

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